sábado, 11 de setembro de 2010

A Base



Minha vó é como qualquer avó
eu acho isso pois ela me fez achar isso
balas de frutas nos potinhos com flor
só depois do almoço com batata
os primos todos de outros tempos
aconchegados nos seus enormes braços
de mulher trabalhadeira
fugiu para se casar como num filme
em que a realidade não é muito boa
pra dar frutos de uma beleza
extraordinariamente comum.
Arranja a mesa com ajuda do Dito
dito meu avô, e que confirmo
ser um dos seres mais inteligentes desse mundo
sem ter ao menos o segundo ano de grupo
me ensinou a fazer arapuca, a ficar em silencio
a jogar videogame, a ser simples
patrimonio de amor em minha vida
Maria Aparecida Tomasini
&
Benedito Tomasini




quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Triste é ver pessoas sem olhar
sem lugar, sem chorar
se camuflam no concreto
estendem a mão
o chão
não é o limite
Meus amigos viajam
eu pego carona
e acaba com a gente
em lugares diferentes
falando de
repentes

Profissional do Ano



Médico, professor e advogado
indicado três vezes a profissonal
do ano, não conseguiu em nenhuma
matou o filho para ressucitá-lo
preso, ensinou a todos pela televisão
o que é ambição
com termos acadêmicos
e essas bobagens
no julgamento argumentou
que tudo isso havia passado
que a vida é efêmera
só pra resumir o que foi visto
em rede nacional
Morreu com a estatueta na mão
Tudo culpa do segundo colocado.
letra miúda, grande dom
tanto não fala
que até faz som

Condição Humana: Contato

                   
                    Voa


            Cansa


      Cai
_________
   Dorme

Hai Caí


falar besteira
é assim, um dom
e também pura baboseira

Leminskiano Terceiro


Não ter o que escrever
não é por falta de ração
é por algo
não ter paixão

On The Road



Grito silenciosamente com o vento
No meio da estrada as sombras dançam
e me levam, leve
onde vou, folhas de eucalipto morrem
e renascem no chão
casam-se com o som da liberdade
e avisam que o destino
é só um faz de conta

Síntese



Quero escrever tudo
com todas as palavras possíveis
Quero cantar a vida

e o que não se vê nela
Quero catar o vento
e os rabiscos no muro
Quero a poesia de todos que conheço

e pintar meus amigos em aquarela
Quero tirar do teu peito o coração
e remover dele a razão

Quero lembrar de mais
pra não parar de escrever jamais
Quero que Freud seja assombrado

como ele nos assombra
Quero que Jesus não seja mais cristo
isso eu faço pelo coitado, e eu insisto
Quero muito uma maneira de desfazer
a besteira das pessoas quererem ser imortais
Quero uma velhice numa cadeira de vime
debaixo de um pé-de ipê
Quero uma morte tranquila
com flores e bandas
e repito
Queria lembrar de mais

pra não parar de escrever jamais

Na parede



O tamborim não tem mais seu gato
Samba?

Roquenrou amarelou
se acomodou, se desertou
nem tudo são flores,
                              [desbotadas
Bota-se é merda nelas
pra delírio das moscas
De duas, uma é menos
e a outa invísivel
canta
as vitórias nunca acontecidas
bradando no peito, um coração frio
                                                 [vil

que aparece sempre
com as desilusões
ou com as facilidades do pós-trinta
BUNDÕES!
E uma contradição se estampa
num palavreado no muro
os poetas imaculados se viram burgueses

e nós, seus fregueses.

Soneto para dormir bem



Receite uma noite calorosa para um amigo
E desgute-a com ele sem contra-indicação
dose sem pensar os amores casuais
mesmo que depois precise de analgésicos


Destile a música do antes dia
beba-a sem moderação
Faça uma pessoa sair de sua real idade
tornem-se infâncias da amizade

Quando o sol estiver colocando a lua de ressaca
Sente-se e abrace quem estiver por perto
Na falta de alguém, não se esqueça de ninguém

E por fim, pra quem fuma, fume, pra quem ama, ame
Sorria para quem o machucou, beije seu rosto
vá para casa, na cara, um sorriso de puro gosto.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nada a Comentar



Hoje me aconteceu algo.
não sei explicar, é algo então.
nem palavras, nem gramáticas
podem sair disto
como não sairam do som que ouvi
se elas se libertassem, eu conseguiria explicar
mas não seria uma gaita em uma mão maltrapilha
seria cola num nariz sujo e desiludido
ser prolixo não é comigo, mas neste caso
tenho a necessidade, pois me aconteceu algo.
só para provar que todas as palavras,
sem desfazer de sua importância
são impotentes e desnecessárias
perante o que acontece dentro de nós.
Isto é algo, talvez.

Três letras, apenas ou amenas
seria isso um enorme acerto
não fossem seus contrastes
desgastes e generosidades
resumidas tão bem
nesses plurais de palavrão
SIM, e NÃO

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Arisco


 Corro risco, rabisco
    curisco, chuvisco
um amor passa, pisco
         é cisco

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Alfabetidesapropriação

             


               Que muito melhor seria se aprendessemos o alfabeto em modo de criança. A gente saberia que o A é o romance entre o distante H, que o S é o I retorcido, pois ficou apavorado com a gravidez do B, que antes, era o esbelto e cultivado P, e que por sua tamanha voluptuosidade e virilidade, causou amores no K, arreganhando-se, diga-se de passagem. E como não falar no G que por razões desconhecidas acidentou-se e perdeu sua parte mais vigorosa e ficou descoberto como o apático C. O M! Engraçada a história deste. Num dia quente pulou numa piscina fria, o choque térmico foi tão grande que o coitado até hoje está invertido, mas isso o fez mais famigerado. Saiu em capa de revista e atualmente dá uma de gringo, é dábliu, não erre.
               Quem precisa fazer tarefa se aprender fazendo invenção é bem mais bom pra cabeça? Mas chegam os intruídos, cheios de Qs, e dizem que tá tudo errado. Até parece que eles nunca perceberam que as palavras gostam que se faça carinho nelas, que as deixem brincar. Palavras não respondem, mostram.

Poema Terrestre



Todas as vezes que acordo
sei como vai ser o dia
não consigo ter olhar de pássaro
como Manoel
as vezes sim,
mas eu, quando pássaro, não tenho asas
é daí que vem meus escritos
minhas palavras no papel
como um ícaro decadente
tento enxergar como Caeiro e Barros
mas meus olhos ainda não
atingiram a altura do sol
Nem falam com e como chão
Não queria nem escrever agora
mas eu preciso
me exorcizo

Mosaico Prosaico



A vida é uma chuva
como aquelas de outono
caem sem avisar
e nem adianta retrucar
só quer viver,
                   [a vida
extasiada
fantasiada
moleca, lhe mostra
o passo do dia
e o verde que ficou mais cor
a dor
torpor pelo que é
humana?
falha, mas tenta
e quando a enxergamos
ela pula de barriga na gente
e nos veste.
e deixa a humanidade pra lá...

Leminskianos


Leminskiano Primeiro

Os Cânticos antigos
são como beijos desistidos
morreram antes que cumprissem seus destinos




Leminskiano Segundo

Belas são as razões para viver
pois foram postas ao limite
de ser razão sem sê-la
pois se fosse, a vida seria azeda

Impropérios


Seu dotô saiu falando,
como ele mesmo disse,
impropérios pro Zé da venda
prontamente fui pra casa do tio
disse que tinha aprendido uma palavra bonita
e saí dizendo
impropérios pra lá e pra cá
apanhei feito jegue quando empaca
nesse disa percebi que a vara de marmelo
explica melhor que o pai dos burro

Amor



Nos lembramos em pedaços  e juntar num precisa

o que precisa


é se despedaçar


pra doer, e compreender


e repetir


se necessário.

Aniversário



Um dia há 22 anos
ganhei um dia que é só meu

quando menino recebia presentes
que geralmente quando abertos
abriam meus olhos e coração
acho que hoje, esconderam de mim.
o que era brinquedo, agora é roupa
o que era sonho, é chão, frio
saudade da garrafa de guaraná
que só se via nessas festas
quando era festa.
sou nostálgico, isso percebe-se
mas quem acompanha-me
sabe que a guaranazinha foi
substituída por Pedro Domeqc
e é por isso que a saudade
bate e arromba
como comparar com os tempos de outrora?
Aceita-se, apenas
E se contenta com o sorriso
daqueles de agora
que sempre foram e sempre serão
o motivo da mudança de estação

domingo, 23 de maio de 2010

Coisas da Vida



O céu está bem movimentado hoje
estrelas pulsam e caminham
dizem para meus olhos coisas estranhas
trepo na árvore aqui do quintal
tento, mas não chego lá
levo um capote e caio xingando
Porra! me atiçam e ainda por cima
riem da minha carranca
sento no banquinho de madeira a pensar
acendo um cigarro, tenho doze anos
porquê elas não vêm até mim?
são lindas de enlouquecer até
e eu como fico nessa coisa?
é coisa porque é coisa
não tem outro nome
se tiver, quem inventou é um mentiroso
coisas mudam, será também eu uma coisa?
durmo e espero
como sou coisa, mudei
a árvore me aguentou mais uma vez
dessa vez percebi, que estrela não é
uma coisa nem outra
o céu sim, a árvore também
e nós, infinitamente
coisas

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cotidiano



Eita moça da saia rodada, que pinta os prédios e as ruas com suas passadas. Um dia o pai falou pra ter cuidado, mas não entendi, e te fui atrás. Calendários se passaram e percebi que inventava mais do que ventava, e inventei de ir, pra onde, não sei, mas fui sem ter cuidado, e te cuidei. Você me perguntava as vezes com os olhos e eu não sabia responder, foi quando eu vi que você me fazia humano e imperfeito, e renasci pra coisas que não queria, ainda sem respostas, beijei-lhe...ahh, o conforto da resposta, renasci do renascimento.
Mas o beijo viera e se fora, o invento deixou o vento virar tufão, alguém me diz que só estou catastrofizando, pois minha arte é essa, mas o único que me diz algo é meu siso, diz que estou criando juízo, mas se for desse jeito, amanhã mesmo procuro meu dentista.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Filosofia de Buteco


Quando se dá os primeiros goles.
Quando as gargalhadas se soltam
Quando um choro irrompe
como soluços num samba
Quando se cai e ali fica
e acorda só no outro dia
com um sorriso desbotado
mas sincero
Quando um abraço aparece
e permanece
Quando um brinde é feito
e o cigarro desfeito
Quando acontece aquele beijo,
esperado, desejado e demorado,
e o mais importante
sem culpa nenhuma
Quando seu amigo sabiamente diz:
quem usa ponto final
é passageiro de ónibus
É quando a vida te mostra os dentes

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cidadão Instigado




Hoje eu machuquei meu pé no
                                           chão
Comum é, mas idiota também.

               Ô seu alceu! uma ajudinha aqui pro irmão
          que caiu
sem nenhum vintém.

me  diz  uma  coisa   rapaz
ja   trocou  o  teu  manto?
esse  tá  claro  demais
pega  essa  poeira  aqui
e   lava  suas  mãos
a  cidade  sabe  o  que  faz

             lágrima suja!? deixa ela aí
            quem sabe dá uma máscara?
             assim você se protege
                  meu filho


Ô MÃE!! o Pedro matou um passarinho
aqui no quintal, joguei a máscara nele
ele chorô, num gostei, pensei que cê
tudo sabia mãe.

             Deitados aí, os eternos de moral duvidosa
              amor? felicidade?
               eu só quero uma e
                                          s
                                           c
                                            a
                                             d
                                               a

terça-feira, 4 de maio de 2010

Aos Invísiveis


minha inspiração vem da tristeza
esta que rodeia a vida
rodeia e nos tasca um soco no peito
apenas pra mostrar quem é que manda.
submetemo-nos sem saber o que é isso
reviramo-nos para não senti-la
mas em cada momento, olha ela lá
invejo muito quem não a vê
pelo menos finge essa situação
o fingimento é uma grande invenção
e como é!
colorimos o mundo para não o sentir
mas há quem sente, e sofre
é para os invisíveis que escrevo
com letras maiúsculas, este ode-o.
que não são vistos e
que não por falta de vontade
não conseguem ver.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Olhar (Letra)

É assim que se vê o mar (2x)
com olhos para nadar (2x)
Abra a mente, abra os olhos
abra os braços, abra as mãos
pra segurar o furacão (2x)
O Olho (2x)
o olho do mar, do furacão, do ser amar

terça-feira, 20 de abril de 2010

Naufrágo


Nau, Fragatas
Levaste em tua onda
minha breve comoção

A onda consertou
o casco dolorido.
abracei o produndo

(Everton/Lita)

domingo, 7 de março de 2010

Livre-Arbítrio Desconjurado


Tosse de volta tudo o que tragou
chora com nuvens na mão
o grito de um bebê
com a força do mundo
veia estufada, impede
pede
passagem pro mundo
um centro óxido arde
expele pele dura
o início era distante
fomos jogados, simples assim
rodopiando, se queixando
adorando esse fruto da nossa
não imaginação
vida tanto morte tanta vida
cada um não é,
desviam e abrem o destino
a um âmbito muito mais belo
e menos encaixotado.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Com o dom, A Palavra.


como é tortuoso o caminho da palavra
torce retorce distorce contorce
metamorfa-se
continua, não importando natalidade
nem lápide

assombra entristece
ressalta enaltece
elucida, tenta
falha falha falha

Fé, é preciso ter fé
nela que não se explica
para uma palavra não há metalinguagem
um universo, talvez...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

um dia na vida


Algum cedro morto sustenta meu copo vazio que logo se enche com um movimento positivo da cabeça. Observo o líquido que tem a cor de um fim de tarde dominical e penso "o que me faz falta é o que já não me faz falta". Olho para minhas mãos, minhas unhas, crescem, o prato de flores cresce, o sorriso da garçonete de olhar opaco, cresce, a criança chora à partida do pai, cresce, cresce! creche! cheque! xeque. Esse sexo de imagens já me interessou, mas agora não passa de fragmentos no meu inconsciente, conviver com a solidão é um trabalho duro, mas também rende bons frutos, mato minha bebida sem misericórdia, levanto-me e sorrio, vejo rostos indiferentes e esboços de simpatia, jogo um adeus pro ar e sigo meu rumo.