quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Triste é ver pessoas sem olhar
sem lugar, sem chorar
se camuflam no concreto
estendem a mão
o chão
não é o limite
Meus amigos viajam
eu pego carona
e acaba com a gente
em lugares diferentes
falando de
repentes

Profissional do Ano



Médico, professor e advogado
indicado três vezes a profissonal
do ano, não conseguiu em nenhuma
matou o filho para ressucitá-lo
preso, ensinou a todos pela televisão
o que é ambição
com termos acadêmicos
e essas bobagens
no julgamento argumentou
que tudo isso havia passado
que a vida é efêmera
só pra resumir o que foi visto
em rede nacional
Morreu com a estatueta na mão
Tudo culpa do segundo colocado.
letra miúda, grande dom
tanto não fala
que até faz som

Condição Humana: Contato

                   
                    Voa


            Cansa


      Cai
_________
   Dorme

Hai Caí


falar besteira
é assim, um dom
e também pura baboseira

Leminskiano Terceiro


Não ter o que escrever
não é por falta de ração
é por algo
não ter paixão

On The Road



Grito silenciosamente com o vento
No meio da estrada as sombras dançam
e me levam, leve
onde vou, folhas de eucalipto morrem
e renascem no chão
casam-se com o som da liberdade
e avisam que o destino
é só um faz de conta

Síntese



Quero escrever tudo
com todas as palavras possíveis
Quero cantar a vida

e o que não se vê nela
Quero catar o vento
e os rabiscos no muro
Quero a poesia de todos que conheço

e pintar meus amigos em aquarela
Quero tirar do teu peito o coração
e remover dele a razão

Quero lembrar de mais
pra não parar de escrever jamais
Quero que Freud seja assombrado

como ele nos assombra
Quero que Jesus não seja mais cristo
isso eu faço pelo coitado, e eu insisto
Quero muito uma maneira de desfazer
a besteira das pessoas quererem ser imortais
Quero uma velhice numa cadeira de vime
debaixo de um pé-de ipê
Quero uma morte tranquila
com flores e bandas
e repito
Queria lembrar de mais

pra não parar de escrever jamais

Na parede



O tamborim não tem mais seu gato
Samba?

Roquenrou amarelou
se acomodou, se desertou
nem tudo são flores,
                              [desbotadas
Bota-se é merda nelas
pra delírio das moscas
De duas, uma é menos
e a outa invísivel
canta
as vitórias nunca acontecidas
bradando no peito, um coração frio
                                                 [vil

que aparece sempre
com as desilusões
ou com as facilidades do pós-trinta
BUNDÕES!
E uma contradição se estampa
num palavreado no muro
os poetas imaculados se viram burgueses

e nós, seus fregueses.

Soneto para dormir bem



Receite uma noite calorosa para um amigo
E desgute-a com ele sem contra-indicação
dose sem pensar os amores casuais
mesmo que depois precise de analgésicos


Destile a música do antes dia
beba-a sem moderação
Faça uma pessoa sair de sua real idade
tornem-se infâncias da amizade

Quando o sol estiver colocando a lua de ressaca
Sente-se e abrace quem estiver por perto
Na falta de alguém, não se esqueça de ninguém

E por fim, pra quem fuma, fume, pra quem ama, ame
Sorria para quem o machucou, beije seu rosto
vá para casa, na cara, um sorriso de puro gosto.